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29 de ago. de 2011

Fiat lança o Cinquecento


Parecia coisa de cinema. Passados exatos 50 anos da apresentação do primeiro Cinquecento, a cidade de Turim, onde está situada a sede mundial da Fiat, serviu de cenário para o lançamento do novo modelo do carrinho. Foi no dia 4 de julho passado, um evento que culminou com um espetáculo ao ar livre que atraiu para as margens do rio Pó, que corta a cidade, jornalistas, convidados ilustres, como o primeiro-ministro italiano Romano Prodi, empresários, socialites e cerca de 100 000 pessoas. E prosseguiu durante vários dias pelas principais cidades italianas.


Nos dias seguintes, cerca de 46 000 pessoas se inscreveram para experimentar o modelo em sessões de test-drive organizadas em concessionários, uma procura nunca vista antes em operações do gênero. "Para mim, o novo Cinquecento está para o mundo dos carros como o iPod da Apple está para os computadores", disse à QUATRO RODAS um eufórico Sergio Marchionne. Presidente da Fiat, Marchionne é reconhecido hoje na Itália como o homem que está fazendo com que os maus tempos da maior companhia de automóveis da Itália sejam uma imagem cada vez mais longínqua no retrovisor.


Mania nacional
Descontada a euforia oficial do momento festivo, o fato é que o Cinquecento tem carisma. Como toda recriação que se preze, neste compacto italiano (que, pelo menos por enquanto, não será vendido no Brasil) há traços bastante característicos do modelo em que ele se inspirou. É o caso do capô curto e, principalmente, dos faróis dianteiros redondos. Eles continuam a ser elementos de estilo determinantes na nova versão e foram mantidos do protótipo Trepiùno, revelado há três anos no Salão do Automóvel de Genebra.

Mas a versão definitiva do novo modelo evoluiu muito em comparação com o carrinho lançado no verão europeu de 1957 e que se transformou em parte da história da Itália, uma mania nacional, com clubes e uma imagem simpática, similar à que o Fusca tem no Brasil. Para começar, as dimensões do Cinquecento safra 2007 cresceram bastante em relação às do antigo. Montado sobre a plataforma do Panda (e que também servirá ao Ford Ka da nova geração na Europa), ele possui 3,55 metros de comprimento por 1,65 metro de largura, dimensões bem mais amplas que os 2,97 por 1,32 metro do carrinho dos anos 1950. Também consegue carregar duas vezes e meia mais bagagem que o original - este, quando foi lançado, deveria transportar duas pessoas e 70 quilos no porta-malas (que, aliás, ficava na parte dianteira). Também recebeu uma safra de motores bem mais parrudos que o antigo a gasolina dos modelos da primeira geração da estirpe, com meros 479 cm3.
A versão que escolhemos para avaliar era a mais luxuosa entre as dotadas com câmbio manual e equipadas com motor 1.4 16V a gasolina. A potência de 100 cv propicia uma performance colossal se comparada ao resultado dos 15 cv disponíveis nos antigos motores dois-tempos que empurravam o patriarca da saga Cinquecento, que mal passava dos 85 km/h. Capaz, segundo a fábrica, de alcançar os 182 km/h, o modelo avaliado por nós veio equipado com teto solar e ostentava um vistoso decalque com as cores da bandeira italiana no capô pintado de branco perolizado. "Há exatas 549 936 possibilidades de personalizar o carro, e essa é uma das armas que usaremos para conquistar os consumidores mais jovens", afirma Luca di Meo, diretor de marketing da Fiat.

Objeto de desejo
Por dentro, o novo compacto italiano segue com a filosofia de ser divertido e bem construído. O destaque fica para o velocímetro, o conta-giros e o relógio montados em conjunto, logo atrás da direção. O volante revestido de couro branco, combinando com o painel de plástico, incorpora comandos do rádio com CD player. Os bancos, com ajuste manual, são de tecido quadriculado, o que ajuda a dar uma imagem simpática e jovial. Ou seja, o espaço interno e as dimensões podem ser compactas, mas a vocação deste carro não será a de mera condução, feita para atrair consumidores menos abonados. Pelo contrário, a estratégia da montadora italiana é transformá-lo em um objeto de desejo. Por aí fica mais fácil entender a comparação feita por Marchionne entre o carrinho e o iPod. Um modelo com o nível de acabamento como o que experimentamos será vendido na Itália por 14 500 euros (aproximadamente 37 700 reais), enquanto a versão básica (sem teto solar e com motor 1.2 de 69 cv) custa 10 500 euros na Europa. No total, 120 000 unidades deverão ser produzidas a cada ano na linha de montagem de Tichy, na Polônia, onde se localiza o "berçário" do modelo.

Uma vez instalado dentro do Cinquecento, não tenho problemas para encontrar a distância entre banco e volante (que pode ser regulado na altura). Antes de acionar a chave na ignição, aperto um botão e abro o teto solar. Depois verifico o espaço do banco traseiro. Acomoda bem dois adultos de estatura mediana. Mas, lá atrás, qualquer um com 1,88 metro de altura, como eu, enfrentará justificada sensação de claustrofobia, com dificuldade para acomodar as pernas. Ou seja, para não ter aperto, é melhor viajar em qualquer um dos assentos dianteiros. Ressalve-se que essa impressão é idêntica em qualquer um dos concorrentes do compacto italiano, máquinas que definitivamente não foram concebidas para carregar ao mesmo tempo quatro passageiros altos.
Ao ser acelerado pelas ruas de Turim, o Cinquecento mostrou-se um animal legitimamente urbano na primeira parte da avaliação, pelas avenidas e trânsito mais pesado da cidade. A direção com assistência o deixa ágil para descobrir espaços no trânsito. Combinada ao tamanho compacto do carro, ajuda bastante quando a missão é encontrar uma vaga para estacionar, um calvário em qualquer metrópole italiana. Nos quilômetros iniciais da rodovia que leva a Asti, a 60 quilômetros da sede da Fiat, os 100 cv do motor foram suficientes para acelerar sem maiores dificuldades até os 130 km/h permitidos nessas estradas mais velozes. Capaz de arrancar de 0 a 100 km/h em 10,5 segundos (dado de fábrica), o Cinquecento não é um carro com vocação esportiva. A situação fica um pouco desconfortável nas subidas mais longas ou em trechos de estrada que exigem mais fôlego do motor. As seis marchas de engate fácil facilitam o trabalho.
Em nossas mãos, os freios a disco nas rodas dianteiras e a tambor nas traseiras foram eficazes sempre que acionados. Coisa de ficção científica na época do modelo original, agora o compacto tem ABS, controle de estabilidade e dispositivos antiderrapagem e de assistência para situações de frenagem em caso de emergência. De quebra, ele sai de fábrica com sete airbags, que propiciam proteção para o rosto e para os joelhos dos ocupantes
Pelo caminho e, principalmente, de volta às ruas de Turim, deu para sentir a comoção que a saga Cinquecento provoca entre os italianos, homens e mulheres, de várias gerações. Foram inúmeros os olhares, os acenos e as buzinadas simpáticas para saudar o novo modelo durante sua passagem.
Quando paramos para uma última sessão de fotos, próximo ao Estádio Olímpico, uma multidão formou-se ao redor do carro. Nem mesmo um policial fardado resistiu à tentação de sacar o celular e tirar uma série de fotos dele, como se estivesse diante de um mito, de uma estrela de cinema. "Este é o modelo da Fiat mais bonito dos últimos tempos", afirmou categoricamente Marcio di Marco, ex-operário da fabricante de motocicletas Piaggio, que também o admirava. Pequeno e charmoso, o modelo ajuda a resgatar a imagem da montadora de Turim entre os próprios italianos. Pelas suas qualidades e pelo frisson que está causando naquele país, cabe muito bem ao Cinquecento o papel de abre-alas de novos tempos para a Fiat.

NOVO 500 - 14 500 euros

Do antigo 500, apenas as linhas básicas. O atual tem potência e equipamentos com os quais seu antepassado nem sonhava


OUTROS 500

O Nuova Cinquecento sucedeu, em 1957, outro 500, o Topolino. Com motor de dois cilindros e 13 cv, chegava aos 85 km/h e fazia 22 km/l. Barato e simpático, levava dois passageiros e tornou-se símbolo de uma Itália em franca recuperação econômica. Ao longo das duas décadas em que foi feito, vendeu 3,5 milhões de unidades. Acabou virando "Luigi", personagem do desenho animado Cars.


Ficha técnica


Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16V, a gasolina, com injeção eletrônica 
Diâmetro x curso: 72 x 84 mm 
Cilindrada: 1 368 cm3 
Taxa de compressão: 10,8:1 
Potência: 100 cv a 6 000 rpm 
Potência específica: 73 cv/l 
Torque: 13,4 mkgf a 4 250 rpm 
Freios: disco (257 mm) na dianteira, tambor (240 mm) na traseira 
Carroceria: hatch, 3 portas, 4 lugares 
Câmbio: manual, 6 marchas, tração dianteira 
Tanque: 45 litros 
Peso: 930 kg 
Peso/potência: 9,3 kg/cv 
Peso/torque: 7,4 kg/mkgf 
Suspensão: Dianteira: rodas independentes, tipo McPherson, com braços oscilantes, inferiores transversais com barra estabilizadora ligada ao amortecedor. Traseira: rodas independentes interconectadas por ponto de torção 
Dimensões: comprimento, 355 cm; largura, 174 cm; altura, 148 cm; entreeixos, 230 cm; porta-malas, 185 l; tanque, 35 litros 
Rodas e pneus: liga leve, aro 16; Continental 195/45 R16 (na versão testada)


VEREDICTO
O Cinquecento une ao carisma do avô o charme, a tecnologia e o desempenho de um projeto jovem.
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