Conhecer pessoas na internet é um risco, o mesmo que envolve conhecer pessoas em qualquer outro lugar. Pessoas são sempre pessoas.
Todas têm seus defeitos e qualidades. Carregam fardos, enfrentam desafios, buscam conquistar seus objetivos, e entre eles está, quase sempre,encontrar um verdadeiro amor.
É fácil conhecer pessoas, difícil é reconhecê-las, esteja ela no bar da esquina ou na internet.
No bar da esquina você constata se o sujeito tem bom gosto para se vestir, se usa um bom perfume, se sabe comportar-se em um ambiente social e, inclusive, se te atrai fisicamente. Gostando do que viu, poderão conversar por horas, e caso resolvam investir na noite e sigam para outro lugar, aí… pode-se experimentar um delírio ou uma tragédia, como temos visto nos noticiários.
Nos relacionamentos virtuais depois de horas conversando, você não vai continuar a noite em outro lugar, no máximo vai se deitar pensando no que ouviu, como uma adolescente que namora pela janela, através de um telefone sem fio.
A grande diferença é que quanto mais conversam, mais promessas são feitas, um maior envolvimento ocorre e mais subsídio se consegue para “atacar” a presa (se esse é o objetivo), pois quando o encontro acontece, já existirá entre eles, uma intimidade e confiança mais efetiva do que o outro casal do bar da esquina.
Para ambos os casos, há o risco de que tudo termine nas páginas policias. Isso não é prerrogativa do relacionamento virtual.
Apostas erradas são feitas todos os dias. As pessoas estão em busca de seus pares afins, seja pessoalmente, ou na internet, seja para uma amizade ou para o amor.
Essa busca sempre envolverá risco, pois relacionar-se com o outro é um ato de entrega, onde a precaução costuma ser deixada de lado, estejam longe ou perto. Distância é algo relativo.
A verdade é que os trágicos acontecimentos envolvendo casais têm como maior responsável, o fator carência, a grande doença do século. Falta de tempo, busca desenfreada por dinheiro, status, projeção no mercado de trabalho. Tudo isso coisifica o ser humano, tornando-o frívolo, preocupado em cumprir mil tarefas, esquecendo-se de quem ele é, do que está fazendo com seu tempo, com seus sonhos e com seus amores, geralmente perdidos.
A solidão assola a humanidade, não falo de estar sozinho, falo de sentir-se sozinho mesmo estando ao lado de um companheiro, ou em meio à multidão. As pessoas perderam o hábito de ouvir e serem ouvidas. Até que um dia, encontram quem as escute, e sua carência já grita tão alto, que as deixam surdas para as evidências, tornando-as incapazes de perceber tolas seduções.
Fato esse que seria tão evidente, se elas estivessem inteiras, supridas em suas emoções. E aí, o que testemunhamos impotentes, são pessoas sendo assassinadas, roubadas, enganadas, além de usurpadas em seus sonhos, mutiladas em suas fantasias, feridas no corpo e na alma.
Essa responsabilidade é de todos nós que aceitamos a ditadura massacrante dessa sociedade que enaltece o ter no lugar do ser, e fabrica carentes em larga escala. Eu sou uma defensora dos relacionamentos virtuais. Onde as pessoas têm mais coragem de falar, onde o outro te escuta sem pressa ou julgamentos, onde longe do burburinho de pessoas e do tripé “sexo, droga e rock`n roll”, você fica literalmente a dois, podendo apenas ser.
Parto do pressuposto de que enquanto o mundo for gerido como uma grande máquina, onde somos vistos apenas como parte atuante dessa engrenagem, sem alma e sem vida, tragédias como essas, continuarão ocorrendo. Viver de verdade não é seguir a manada, é preciso questionar o que nos é imposto. Renunciar o que não nos parece digno.
Não é fácil lutar e fazer com que sua vida seja inteira, mas é a única maneira de escapar de ser mais uma vítima produzida pela solidão. Caso contrário, o mais fácil é continuar culpando a internet.
Artigo escrito por Marcela, escritora no Sentimento Calmo. Brasileira, 43 anos, mãe de três filhos.
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