Consciente de que a mudança nas regras da caderneta de poupança seria uma medida ousada e com potencial explosivo, a presidente Dilma montou uma operação política de convencimento de setores cruciais para o sucesso do anúncio. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi encarregado de esclarecer a medida à imprensa, empresários, trabalhadores e políticos.
Na quarta-feira, a presidente Dilma bateu o martelo nos detalhes da mudança indicada pela Fazenda e pelo Banco Central como necessária para destravar a redução da taxa básica de juros, a Selic. Para isso, Dilma adiou para o dia seguinte a reunião com o Conselho Político – a segunda de seu mandato. Planejava usar a ocasião para apresentar a medida aos presidentes dos partidos aliados, que integram o Conselho.
Na quinta-feira, o ministro Mantega dedicou boa parte da sua agenda a explicar a medida para os diretores das sucursais dos principais órgãos de imprensa nacional com sede em Brasília. Recebeu pessoalmente um a um, os editores chefes de televisões e jornais em seu gabinete no ministério. Ao seu lado, o Secretário Executivo da pasta, Nelson Barbosa.
Vencida esta etapa, na mesma quinta, a tarefa do ministro passou a ser esclarecer e avalizar a medida para os presidentes de partidos, representantes das principais centrais sindicais e para 26 representantes do setor produtivo, da indústria têxtil à siderurgia.
Na sexta-feira, quando o primeiro impacto da medida já havia sido absorvido por jornais e tevês, Mantega foi para o rádio, traduzir pessoalmente e em linguagem simples a mudança que reduzirá os ganhos da poupança ao atrelá-la à queda da Selic, mas não à eventual alta da taxa.
O ministro cumpriu a tarefa, chamando de “felizardo” quem já tinha caderneta de poupança antes da alteração, e, ao mesmo tempo, assegurando que a modalidade continua sendo uma boa alternativa de investimento. O governo chegou a temer que, se mal compreendida, a notícia poderia provocar evasão da poupança ou desestímulo ao poupador, com redução do estoque nesta aplicação, que passa dos R$ 430 bilhões e é a principal fonte financiadora do crédito imobiliário.
Aos políticos, a própria Dilma admitiu a ousadia da medida, alegando sempre que ela representava o fim de um entrave importante para a redução dos juros. Demonstrou que o governo não quebraria contratos, mantendo as regras para os depósitos anteriores a 4 de maio e que a mudança seria mínima, apenas acionada quando a Selic fosse igual ou menor que 8,5%.
O anúncio, que altera regras que vigoram há mais de duas décadas, lança grande expectativa para a próxima reunião do Copom – Conselho de Política Monetária, prevista para 29 e 30 de maio. Aparentemente, a alteração na poupança prepara uma redução expressiva da Selic, hoje em 9%.
“Não nos pautamos pelo calendário político e sim pelo interesse da população” – disse Mantega, ao ser perguntado sobre o desgaste que a medida poderia acarretar para o governo em um ano eleitoral.
De todas as medidas da presidente Dilma, esta é a que parece trazer mais fortemente sua marca: assumindo riscos políticos e de popularidade, ela tomou as rédeas da condução da política econômica, no macro e no micro. É mais do que a gerente de governo. E a “presidenta” – como ela gosta de ser chamada.
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