Em sua quinta passagem pelo Congresso Nacional em menos de um ano, a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster disse nesta quinta-feira, 26, aos integrantes da CPI que investiga a estatal que sente "muita vergonha" dos colegas que participaram do esquema de corrupção flagrado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. "Lógico que passo horas do meu dia pensando em tudo o que está acontecendo na Petrobrás. Eu entrei aqui nas outras CPIs , em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje. Podiam ter todas as suspeitas mas não tinham os fatos que estão aí. Eu tenho realmente um constrangimento muito grande por tudo isso, de olhar para vocês".
Questionada sobre seu sentimento em relação aos diretores evolvidos no esquema, ela afirmou sentir "muita vergonha" e ter "decepção". "Já passei por várias fases de sentimento. Eu tenho vergonha, muita vergonha", afirmou. Ao falar do gasoduto Gasene, disse que "gostaria que tudo isso fosse mentira e que não tivesse tido propina alguma".
A presidente da estatal chegou ao plenário 2 da Câmara às 10h20, escoltada por deputados petistas e acompanhada de ao menos quatro advogados, inclusive uma da Petrobrás. Os parlamentares Sibá Machado (AC), Maria do Rosário (RS), Afonso Florence (BA) e Valmir Prascidelli (SP) se revezaram em elogios e defenderam Foster das críticas da oposição. O relator, o também petista Luíz Sérgio (RJ), fez longas perguntas.
Apesar da tentativa de blindagem, Foster foi pressionada por deputados de oposição a dizer se gostava mais do PT ou da companhia. "A Petrobrás, mil vezes a Petrobrás". E fez uma autocrítica: "Certamente a Petrobrás merecia um gestor muito melhor do que eu. Não tenho a menor dúvida disso". A ex-presidente negou que a perda de R$ 88,6 bilhões registrada no terceiro trimestre do ano passado seja referente à corrupção. "Esses R$ 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não são o número da corrupção".
FHC. Quando inquirida sobre a declaração do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que afirmou ter recebido propina de forma isolada durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a ex-dirigente da empresa duvidou da versão. "Não consigo imaginar como pode ser verdadeira a fala do Barusco de que ele sozinho recebia propina. Não consigo entender isso de forma alguma".
"Fico surpresa de saber que alguém pode ganhar alguma coisa no meio da estrutura sem ninguém de cima saber. Quando a gente vê o Barusco falando de si, a gente pensa que está em outro planeta". O ex-executivo, que fez um acordo de delação premiada, disse à CPI que começou a receber propina de forma individual em 1997, durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Segundo o ex-gerente, porém, os pagamentos de forma organizada e envolvendo diretores da estatal e o tesoureiro do PT tiveram início em 2004, no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Nunca soube de propina na Petrobrás. O esquema de corrupção se formou fora (da estatal)", afirmou Graça. "Não fomos capazes de captar a corrupção na empresa". Ela afirmou ser a Polícia Federal a responsável pela descoberta da corrupção na estatal. "Não tenho dúvida em relação ao bem que a Operação Lava Jato já vem causando à Petrobrás".
A ex-presidente negou que a corrupção na estatal tenha se tornado "sistêmica" durante a gestão do PT, como afirma Pedro Barusco. "A partir do momento em que eu não sabia, como diretora e como presidente, passei a ter informações depois da Operação Lava Jato, não posso caracterizar a corrupção como sistêmica e institucionalizada".
Foster disse ter sido indicada pela presidente Dilma Rousseff tanto para a diretoria quanto para a presidência da Petrobrás. Ela afirmou desconhecer os responsáveis pelas indicações de Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-executivos investigados por envolvimento no esquema de corrupção. A ex-presidente disse nunca ter visto o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado por Barusco de receber US$ 300 mil para a campanha presidencial de Dilma em 2010. Ela também disse já ter discordado do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e citou a localização de uma fábrica de fertilizantes como exemplo. "Cabe também desagradar o líder, dizer que isso dá ou não dá pra fazer", afirmou.
Como em outras sessões, petistas e deputados de outras legendas protagonizaram bate-bocas. No momento mais tenso da sessão, o deputado Jorge Solla (PT-BA) questionou o porquê de supostos operadores do PMDB não terem sido convocados até o momento. Ele discutiu acaloradamente com o Delegado Waldir (PSDB-GO). Pedro Venceslau, Daniel Carvalho, Daiene Cardoso e Bernardo Caram
Fonte: O Estado de S. Paulo
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