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10 de jan. de 2013

Usinas gastaram mais água para produzir mesmo volume de energia

Os reservatórios brasileiros esvaziaram mais rápido do que o normal durante o ano de 2012, indica uma pesquisa da consultoria PSR, divulgada pela agência Canal Energia,  que analisou os níveis de armazenamento de água durante os últimos doze meses no país. 
Segundo dados da ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde estão as principais usinas do país, estava com 76% de capacidade há um ano. Atualmente, o nível está em 28,3%, perto do limite histórico de 2001, quando houve racionamento. Um dos motivos apontados pela consultoria para este baixo nível é a queda na produtividade das usinas, que podem estar utilizando mais água para produzir o mesmo MWh, informa a publicação.





Mesmo com o baixo crescimento da economia, que demandou menos energia, os reservatórios nacionais não conseguiram acumular água nos últimos 12 meses e agora sofrem com o "atraso" nas chuvas de verão, considerada a "época úmida" do país. Para o engenheiro Luis Gameiro, diretor da Trade Energy, empresa comercializadora de energia, um dos motivos também pode ser o baixo crescimento no número de reservatórios do Brasil.
"As usinas com reservatório têm crescido, mas em velocidade insuficiente. A prioridade tem sido para a energia eólica e outras, que não contribuem para aumentar a reserva de energia no país", aponta ele. Apesar de apoiar a diversificação da matriz energética brasileira, o país precisa ter uma segurança energética mais forte, que se dá através dos reservatórios, afirma ele. 
Ambientalistas e técnicos discutem
O debate sobre a construção de usinas com grandes reservatórios de água aumentou desde que o governo foi obrigado a ligar todas as termelétricas do país, afastando a possibilidade de um racionamento de energia. Usinas hidrelétricas com grandes reservatórios de água tornam a produção energética menos dependente da chuva. Até meados da década de 80, esta foi a principal opção do governo brasileiro para produção energética. 





Porém, desde o início da década passada, diante da forte campanha de ecologistas, a construção de usinas a fio d'água tem sido incentivada pelas autoridades. Estas geradoras funcionam a base da força e não da quantidade de água, evitando a criação de reservatórios que alagam grandes porções de terra, muitas vezes deslocando a população local - inclusive indígena - e destruindo a mata nativa. 
A existência dos reservatórios não é a toa: eles dão "segurança" à produção da energia, já que com o acúmulo de água a geração fica menos dependente dos períodos de chuva. "Com os reservatórios há a vantagem de você controlar melhor a produção e geração de energia, principalmente em momentos como este", explica o engenheiro Sergio Valdir Bajay, professor do Departamento de Energia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 
Com a ativação das termelétricas do país, que funcionam a base da queima de combustíveis, a produção tornou-se mais cara e mais poluente. Para Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, falta visão política e investimentos em novas fontes de energias renováveis para evitar cenários como este. Ele afirma que a construção de usinas com reservatório não resolveria o problema da geração energética do país.
"É preciso um intercâmbio maior com outras fontes, a solução não é mais ter usinas hidrelétricas, mas o incentivo da eólica, por exemplo, que faz esta poupança de água, pois tem seu pico de produção no meio do ano. O que falta é expandir mais as outras fontes, não aumentar o número de usinas, mesmo as de fio d'água, que mantêm o país dependente da água", afirma. 
Gameiro discorda. Para ele, é necessário que o Brasil mantenha e amplie seus níveis de reservatório, já que não se deve ignorar a potencialidade do país neste tipo de geração de energia, ao mesmo tempo em que é preciso garantir o suprimento necessário para a demanda energética. 





"Deveríamos ter usinas com reservatórios maiores, sem a preocupação ambiental que se está tendo, porque você acaba exigindo mais da geração térmica, queimando, que é poluente. Qual o menor impacto ambiental? Numa situação crítica de hidraulicidade, com reservatórios cheios, não há necessidade para isso", afirma. 
Bajay também acredita que é preciso aumentar o número de reservatórios do país. O mais importante, no entanto, é garantir que a demanda energética brasileira não fique dependente de fatores naturais adversos, seja com chuvas, ventos ou água. "Ter mais alguns reservatórios seria importante do ponto de vista da segurança energética, mas não podemos continuar achando que a hidreletricidade é a salvação, tem que começar a investir mais fortemente em outras fontes, que não dependam tanto de fatores aleatórios", analisa. 
Sem energia, recessão
O que não se coloca em discussão é ficar sem energia. O economista Fernando Sarti, diretor da Escola de Comunicação da Unicamp, afirma que um racionamento geraria um processo de recessão na economia, afetando fortemente a indústria nacional, que já passa por momentos difíceis. "Um racionamento provocaria um impacto recessivo violento. E o aumento no custo da energia, que zeraria os ganhos com a redução das alíquotas. Ou seja, o possível ganho de competitividade, objetivo do governo, seria perdido", afirma.
A produção energética a partir das termelétricas é mais custosa, mas segundo o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, garantiu que o desconto de 20% nas tarifas de energia está mantido, e descartou qualquer chance de racionamento. "Não há nenhuma possibilidade disso acontecer", afirmou. 
Como mostrou o Jornal do Brasil em matéria publicada na última quarta-feira (9), o problema do racionamento não é o único enfrentado pelo governo na questão energética. 
Dirceu critica mídia
O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, criticou a forma como a grande mídia vem tratando o assunto em publicação no seu blog nesta quinta-feira (10). Segundo ele, a grande imprensa continua em uma "jornada irresponsável" na cobertura do assunto. Para o político, o discurso sobre um possível apagão é "pura conversa fiada". 
"Certa imprensa já partiu para um outro tipo de sabotagem contra o governo. Agora, prega que a conta de luz vai subir. Mesmo com o governo garantindo a redução de 20% nas tarifas, aprovada no ano passado", pondera.
  Fonte: Jornal do Brasil
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